quinta-feira, 9 de abril de 2009

Status quo e projeto


LIC, do artilheiro João, disputa contra a Adesa, de Vinícius Manoel

O projeto de marketing elaborado para as categorias de base do Lagoa Iate Clube (LIC) partiu da preocupação fundamental de conferir uma característica ao trabalho a ser desenvolvido. Para isso foi necessário que se criasse um posicionamento coerente com os objetivos traçados em paralelo. Assim surgiu o tema “Plantando o Futuro com o Esporte”, núcleo de todas as ações desenvolvidas a partir do documento.

A situação do futsal no clube era bastante precária. Embora houvesse quatro categorias de competição (Sub-9, Sub-11, Sub-13 e Sub-15), nenhuma delas possuía um elenco capaz de alavancar resultados. Havia ainda a escolinha de futsal, com poucos garotos que arriscavam seus primeiros chutes sem uma clara metodologia de desenvolvimento técnico e motor na atividade.

A quadra tinha sido melhorada nos últimos anos, mas ainda assim a sua condição era péssima, com madeiras velhas e quebradas, falta de calafetação e suas próprias dimensões eram diminutas, não ultrapassando 28.00 x 15.60. Não havia qualquer equipamento para trabalho físico ou técnico além de surradas bolas de futsal. Cada equipe de competição possuía apenas um jogo de uniforme, convenientemente confeccionado na cor cinza para não confundir com as cores dos demais adversários, fulminando, dessa forma, a necessidade de um jogo reserva de uniformes.

Não havia qualquer indicativo dos resultados anteriores das equipes, nem estatísticas. No entanto, o LIC havia ganhado no ano anterior o Circuito Catarinense de Futsal (que não contou com as principais equipes do Estado) e o Circuito Metropolitano de Futsal (que não contou com as principais equipes de Florianópolis). Era uma espécie de campeão da segunda divisão.

Mesmo com toda a precariedade, o professor Alex Silva obtinha resultados satisfatórios para os pais, que não almejavam nada mais do que ver seus petizes competindo, mesmo que em uma escala de valores consideravelmente inferior. Exatamente por isso, não ficaram indiferentes à minha presença. Pelo contrário, iniciaram uma oposição que perdurou por anos e, mesmo enfraquecida no final, ainda se insurgiu nos momentos derradeiros da minha gestão no clube.

A princípio desacreditavam no projeto de marketing. Depois, quando as ações passaram a ser desenvolvidas com sucesso, questionavam minhas reais intenções. Faziam observações sobre a qualidade do crescimento vivenciado pela modalidade dentro do clube, alegando que excluía os associados. Na verdade, não excluía ninguém, apenas premiava quem possuísse méritos para tanto. Imperou a época da meritocracia no futsal. Foi algo muito salutar e que trouxe um engrandecimento para o clube jamais vivenciado até então – e acredito que isso envolva as demais modalidades.

Se por um lado o projeto de marketing feria frontalmente o status quo do futsal do LIC, por outro permitia que os filhos de associados se beneficiassem, em um primeiro momento, do processo de mudanças. Apesar disso, alguns deles decidiram deixar a modalidade. Costumávamos dizer que, “se um garoto não tem talento para jogar futsal em alto nível, acaba procurando o tênis”, que é um esporte em que se pode evoluir a partir do treinamento constante. No futsal não é assim. Ou você joga bola ou não joga. E ponto final.

Diante dessa observação, é certo concluir que a escolinha de futsal do LIC passou a ser vista com o objetivo de revelar novos talentos, aprimorando as qualidades técnicas já existentes na garotada. É claro, havia lugar para todos, mas somente alguns seriam efetivamente aproveitados nas equipes de competição. Na verdade, poucos, muito poucos.

Penso que quem pretende ser competitivo, independente da área de atuação, precisa definir claramente as suas prioridades, E isso envolve tomadas de decisão que nem sempre são agradáveis a todos os envolvidos no processo. Por exemplo, minha primeira medida para a transformação do futsal do LIC foi a isenção da mensalidade aos sócio-atletas. Na época pagavam R$ 25,00 para participar das equipes. A meu ver, já estavam colaborando com o clube dando o suor de sua participação em quadra para honrar as suas cores e a sua tradição.

O assunto foi levado à diretoria do LIC, mas não houve consenso na hora de decidir. Não me dei por vencido. Em uma reunião relâmpago entre eu, já nomeado diretor de futsal, o ex-vice-presidente de futebol do clube, Luiz Alves da Silva, e o ex-presidente do LIC, Mauro Candemil, decidimos pela isenção da mensalidade como melhor forma de atrair novos atletas que compusessem as equipes do clube com mais dignidade.

Candemil, um entusiasta pelo futsal e que na década de 1990 montou uma das melhores equipes da modalidade em Florianópolis, logo compreendeu a extensão dos meus propósitos e vislumbrou onde o clube poderia chegar.

A isenção da taxa foi a minha primeira vitória dentro do LIC. Foi emblemática e sinalizou a todos que muita coisa ainda estaria por vir. Sentia-me metendo o dedo na sobremesa de muita gente, mas na verdade, procurava apenas ser coerente com meu propósito de impulsionar a modalidade dentro do clube.

Nenhum comentário:

Postar um comentário