quinta-feira, 9 de abril de 2009

6ª fase – Chuva, suor e champanhe


A "Maquininha Azurra" comemora o merecido título de 2008

Finalmente chegou a fase final do Campeonato Catarinense de Futsal. Confesso que já estava desgastado no final da temporada, mas isso aconteceu também nos anos anteriores. Como perdemos a última partida da 5ª fase para a Elase, deixamos de ter o returno em casa. Mas o turno foi realizado no LIC. Para falar a verdade, foi um acaso que caiu do céu. No final de fevereiro nosso fiel patrocinador, alegando problemas com a alta do dólar, decidiu interromper o patrocínio justamente na fase mais aguda da competição. No cofre tinha dinheiro apenas para realizar o turno, no LIC, mas eu não sabia ao certo como solucionar a questão. Não teve jeito, tive que esclarecer a situação junto à Sul Imagem, literalmente com o pires na mão, uma medida que tanto critico, e obtive uma resposta positiva. Poderíamos viajar para São Miguel D’Oeste e com todo o conforto necessário a quem buscava o título.
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O primeiro jogo foi no dia 21 de novembro contra o Colegial. Já havíamos jogado duas vezes com eles na temporada. Uma pelo estadual, na primeira rodada, quando empatamos em 5 a 5. A outra pela Liga, quando fomos massacrados por 9 a 1. Aquela derrota estava entalada na nossa garganta e precisava ser vingada. O jogo foi duro. Dominamos a partida, com 54% contra 46% da posse de bola, mas sempre tivemos que correr atrás do resultado. O Colegial chegou a estar vencendo a partida por 2 a 0. Diminuímos ainda na primeira etapa. Eles voltariam a marcar, abrindo dois gols de diferença e nós, mais uma vez, reduzimos para apenas um. Na primeira etapa. chutamos 17 vezes em gol, acertando 6 vezes e marcando 2 gols. O Colegial chutou 25, acertou 10 e marcou 3 vezes. Final do primeiro tempo: Colegial 3 a 2. O segundo tempo se inicia e o Colegial volta a marcar. Com 4 a 2 no placar, as coisas começavam a nublar para o nosso lado. Tivemos que partir para cima, chutando 25 vezes e acertando 7 na direção correta, o que resultou em 2 gols. Por sua vez, os meninos do Colegial chutaram 17 vezes, acertando 6 vezes a nossa meta, mas marcando apenas 1 gol. O goleiro deles, Vitor, realizava uma boa atuação. Mas não foi suficiente para evitar o empate, que chegou com gols aos 8 e 10 minutos. Partimos para cima, tentando virar, mas o goleiro Vitor continuava brilhando, sendo que no fim do jogo fez uma defesa milagrosa e evitou a derrota. No fim, cada equipe chutou 42 vezes a gol, com a diferença de que eles acertaram 16 e nós 13 vezes a meta. Chutamos 3 bolas na trave contra 4 dos nossos adversários. Um jogo equilibradíssimo. Resultado final: 4 a 4.
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A Elase vencera bem seu compromisso diante do Bugre, de São Miguel D’Oeste na noite anterior e agora entrava em quadra para nos enfrentar. Vinha de três vitórias seguidas sobre a gente e cheia de confiança. Foi uma partida duríssima, como se esperava. O primeiro tempo terminou empatado em 2 a 2. Muito agressivos, como sempre, os elaseanos deram 28 chutes na primeira etapa, acertando 14 vezes a nossa meta, contra 15 chutes nossos, que atingiram 5 vezes seu objetivo. Os gols do Avaí-LIC foram anotados pelo pivô Marcão. Os da Elase pelo pivô Dodô e pelo ala Igor. Na segunda etapa, aos 2:00 e aos 4:00, fizemos mais dois gols, através de Marcão e Serginho. Machucado, nosso principal jogador, Diogo, não cumpria boa atuação e foi sacado logo no começo da segunda etapa. Nossa reação foi fruto do maior ímpeto que a equipe apresentou no segundo tempo, quando arrematou 28 vezes - 8 na direção correta - contra 26 vezes do adversário - que acertou também 8 chutes. Sempre perigosa, através do ala Vitor Dias a Elase reduziu o placar para 4 a 3. Mas era mesmo dia do Marcão, que anotou o seu quarto gol aos 9:00. Através do pivô Dodô a Elase ainda diminuiu para 5 a 4, num vacilo do goleiro Victor, que achou que já tinha o domínio da bola, mas não tinha. Foi um dos raros erros do capitão da equipe ao longo da temporada. Continuamos em cima da Elase, que a essa altura procurava explorar os contra-ataques. Partimos para a estratégia de lançar bolas altas na área adversária, para nos aproveitar da baixa estatura do goleiro reserva adversário, o João Lucas, que substituiu o titular Dudu. Como no jogo anterior, o técnico André de Melo colocou seu principal jogador, o pivô Dodô, como fixo para evitar que o pior ocorresse. No total, chutamos 43 vezes a gol a acertamos 13 vezes a meta defendida por Dudu, que ainda tomou uma bola na trave. Já a Elase chutou 54 vezes durante a partida, acertando o alvo em 22 ocasiões, com uma bola na trave. Tivemos 55% de posse de bola. Depois de muito tempo, vencemos nossos rivais novamente.
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Faltava, agora, o jogo contra o Bugre. Depois de tomar dois “sacodes” em Florianópolis (8 a 3 contra a Elase e 7 a 0 contra o Colegial), os garotos de São Miguel D’Oeste teriam que enfrentar os donos da casa – teoricamente seu grande obstáculo rumo ao título. Se vencessem, continuariam na briga. Se perdessem, as coisas ficariam quase impossíveis. O primeiro tempo foi muito equilibrado. Chutamos 18 vezes a gol, acertando 5, contra 17 chutes adversários (6 atingiram a nossa meta). Através de um contra-ataque, o Bugre saiu na frente, com menos de 3 minutos de jogo. Não demorou muito e veio o segundo. Não conseguíamos imaginar que com cinco minutos de jogo estaríamos perdendo por 2 a 0. Mas estávamos. Só que o time, já bastante maduro em relação aos reveses de uma partida, teve calma, tocou a bola e envolveu o adversário. Pelezinho foi o primeiro a marcar, aos 6:15 de jogo. Aos 9:30 o Diogo empatou a partida e, aos 10:30, Yan nos colocou à frente do placar. Marcão fechou a conta do primeiro tempo, aos 12:40. Fomos para o vestiário vencendo por 4 a 2. Na segunda etapa, o Bugre voltou mais agressivo. Chutou 23 vezes a gol, acertando 10 vezes, contra 16 chutes nossos, com apenas 5 certeiros. Mas não adiantou. Marcão, aos 40 segundos de jogo fez o quinto gol. O Bugre reduziu o marcador, 5 minutos mais tarde. Só que aos 7:00, Yan ampliou novamente e aos 11:00, Diogo fez o nosso sétimo gol. Os meninos de São Miguel ainda reduziriam o placar para 7 a 4 alguns segundos mais tarde, numa falha do ala Cleyton. Os três minutos finais foram difíceis para a nossa equipe, já muito cansada e com o ala Diogo machucado, praticamente se arrastando em quadra. O goleiro Victor, que havia tomado uma bolada violenta no rosto, permaneceu tonto em quadra até o final da partida. O scaute final apontou um volume de jogo maior da nossa equipe, com 60% da posse de bola, mas uma objetividade menor, já que o Bugre chutou 40 vezes a gol (16 na meta), contra 34 chutes nossos (10 na meta) e ainda 3 bolas na trave. No fim, o placar de 7 a 4 foi justo e nos deixou na liderança da competição, já que Elase e Colegial empataram em 6 a 6.
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Nos dois dias de jogos em Florianópolis o clima castigou a cidade. Choveu bastante e eu fiquei preocupado com a situação do time do Bugre, que tinha que retornar até São Miguel D’Oeste naquelas condições. Por sorte, eles saíram um pouco antes de desabar a verdadeira tempestade do dia, a que iniciou a catástrofe daquele fim de primavera em todo Estado. Após acabar a rodada, quando ainda conversávamos no clube, cheguei a fotografar nosso campo de futebol inundado pela água da chuva. Nunca havia visto aquilo ocorrer no LIC. Foi mesmo impressionante.
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Até a viagem, muita coisa ocorreu. Sabíamos que era importante vencer a primeira partida contra o Colegial, uma espécie de decisão antecipada. No entanto, não os temia, pois tinha certeza que nossa equipe se sairia bem contra eles em uma quadra grande. Teoricamente deveria sair-se melhor ainda contra a Elase, um time menos técnico. Viajei confiante. O técnico Alex Silva, às vésperas de ser pai pela primeira vez, não pode viajar. Então, ficou tudo sob minha responsabilidade. Eram meus últimos jogos como membro de uma comissão técnica, já que eu encerrei naquele final de semana minha passagem pelas quadras. Meu filho, o goleiro Victor, também.
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Cheguei ao ginásio de esportes e passou um filme rodado pouco mais de um ano antes, quando fomos derrotados três vezes naquele local. Não iria acontecer novamente. Precisávamos de apenas quatro pontos para comemorar o título e não iríamos deixar escapar. Mas tínhamos que vencer de qualquer maneira o Colegial.
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Durante a preleção eu havia estabelecido a estratégia de compactar o grupo na defesa e abrir ao máximo os jogadores no ataque, buscando explorar o talento individual de cada um. Sabia exatamente quais eram os pontos fracos a serem explorados, onde acharia espaços para fazer gols e quais os jogadores deles que tremiam em partidas decisivas. Pedi calma a todos e muito toque de bola, mesmo porque o Colegial não tinha por base apertar a sua marcação na meia quadra adversária. Fazer isso seria suicídio, pois abriria os espaços tão necessários a nossas penetrações.
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Mas teoria é uma coisa, prática é outra. E o jogo começou. Logo no segundo chute a gol, o ala Diogo abriu o marcador. O goleiro adversário, Vitor Espíndola, reagiu tardiamente ao chute e não conseguiu evitar o gol. Com 1 a 0 no placar, logo aos 46 segundos de jogo, nossa equipe começou a impor seu toque de bola. Mas, aos poucos, o Colegial se recuperou na partida, levando muito perigo à nossa meta. Durante a primeira etapa nosso goleiro fez nove defesas, das quais, quatro difíceis e uma dificílima, após um chute no ângulo direito em que precisou voar e tocar de mão trocada. Ele estava com a visão encoberta e teve muita presença de espírito e tempo de reação. Tomou ainda uma bola na trave, em um desvio de cabeça na entrada da área. O Colegial mostrava porque estava ali, disputando de igual para igual a final. Ao todo eles chutaram 21 vezes a gol na primeira etapa, com nove bolas certeiras contra 17 chutes nossos, dos quais sete foram na direção da meta adversária. Cada um dos times teve 50% de posse de bola na primeira etapa. Mas, apesar dos dados ligeiramente favoráveis ao Colegial, a 48 segundos do fim do primeiro tempo o ala Yan aproveitou uma indecisão entre o ala Vinicíus e o goleiro Vitor Espíndola e ampliou a nosso favor. Poderia ter sido um placar mais confortável, caso o nosso ala Serginho não perdesse um gol sem goleiro, com uma bola cruzada na segunda trave em que ele tropeçou, ou caso o pivô Marcão, cara-a-cara com o goleiro, já batido, não chutasse por cima do travessão.
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O segundo tempo foi totalmente diferente. O Colegial teve que partir para cima e buscar o resultado. Teve 69% da posse de bola, mas chutou menos: 18 arremates, com 9 na direção do gol contra 26 arremates nossos, com 12 na direção do gol. Ao todo, chutamos 19 bolas na direção certa, contra 18 deles. Também na segunda etapa, nosso goleiro fez três defesas difíceis e duas milagrosas. A primeira em um chute de longe, ligeiramente desviado com a cabeça pelo ala Falluh, na entrada da área e a segunda, bastante parecida, em outro chute desviado pelo pivô Luan, do Colegial.
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Os dados traduzem exatamente o que foi o jogo. O Colegial tentando encontrar espaços e nós, mais agudos, partindo objetivamente em direção ao gol. No vestiário, antes do jogo, pedi para que tocassem a bola, tentando atrair o Colegial. Como fizemos o gol logo no início do jogo, a estratégia deu certo. O técnico Lacau, de quem sou grande admirador, teve que pedir para os alas apertarem nossa saída de bola, que invariavelmente começava nos pés do Pelezinho. Ele gritava, “espeta, espeta na ala”, ordenando para irem para cima. Confesso que demorou um pouco para assimilarmos a pressão.
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Então pedi para o Marcão cair mais pelo lado direito do nosso ataque, puxando a marcação e para o Serginho evitar o drible, abrindo no corredor da quadra para o pivô. Quanto ao Diogo, que teria caminho livre ao se livrar do seu marcador, pedi para tentar o drible, chamando o adversário cada vez mais para a nossa meia quadra. E deu certo. Com 4:00 minutos de jogo na segunda etapa o próprio Diogo aumentou o marcador.
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Nesse meio tempo, o goleiro Vitor Espíndola foi expulso, por defender um chute fora da área. Um minuto depois, foi a vez do Serginho fazer 4 a 0. Lacau não teve dúvidas, colocou o Falluf como goleiro-linha e nos complicou. O Colegial ganhou novo ânimo e partiu para cima. Através de uma falha coletiva da nossa equipe, acabaram diminuído para 4 a 1, quando faltava 4 minutos para o fim do jogo. Pressionaram muito, mas os arremates acabaram todos nas mãos do nosso goleiro. Tentando evitar tomar gols, pedi que o capitão Victor fizesse um pedido de tempo aos 12:30.
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Mudei nossa marcação - que naquele momento se tornara um clássico losango devido à pressão intensa - para o dinâmico e efetivo sistema quadrante, que diminuiu muito os espaços nas laterais da quadra, permitindo que os dois jogadores da nossa linha de frente se incumbissem de marcar o goleiro-linha. Além disso, combinei uma jogada de saída de bola, que foi na altura da nossa área. Eles marcavam pressão nesse momento. Yan bateu o lateral para o Pelezinho, que retardou ao máximo o passe, aguardando o Serginho se deslocar até a metade da nossa meia quadra. Enquanto isso, Diogo correu em diagonal, ocupando o lugar do Serginho no ataque. Este fez o passe no corredor direito. Como o Diogo é canhoto, achei que ele ia forçar o drible pelo meio e partir em direção ao gol. O marcador adversário também. Mas aí veio o toque de criatividade do melhor jogador da competição. Ele simplesmente fingiu que sairia pelo meio e deixou a bola passar. O marcador ficou para trás e ele, que bate forte com ambos os pés, fuzilou de direita, por baixo das pernas do goleiro-linha. Depois disso ainda perdemos mais três gols feitos, todos cara-a-cara com o goleiro. Mas ficou em 5 a 1. Agora faltava apenas um ponto para o título.
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Pela manhã, acordamos cedo, tomamos o café da manhã – todos tomaram café, porque eu sempre obrigava a equipe a tomar esse estimulante, para despertar por completo – e partimos em direção ao ginásio de esportes. Era o jogo preliminar, mais uma vez. O campeonato poderia ser decidido ali. Com a moral lá em cima, por ter nos vencido por 8 a 4 nas duas partidas decisivas da Liga Atlética de Futsal (LAF), os elaseanos imaginavam vencer aquele jogo e aguardar os demais resultados para ficarem no páreo.
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Nossa equipe, por sua vez, mostrou frieza e certa maturidade ao esquecer o resultado negativo na final da Liga de Futsal. Embora logo após a derrota, na cerimônia de premiação, todos tivessem sentido um pouco de frustração, os sentimentos dominantes para o jogo final contra a Elase eram de revanche e muita segurança. Isso porque a maioria dos nossos jogadores tinha a convicção de que a equipe não conseguia se apresentar em plenas condições nas partidas da Liga, enquanto no Estadual, com todo o elenco presente e descansado, a situação era outra.
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O jogo foi muito truncado, sem muitos toques de bola, contrariando nossa forma usual de atuar. Eles tiveram 67% da posse total de bola, contra 33% da gente. Em compensação, chutaram a gol 30 vezes, acertando 15 na meta defendida pelo Victor, contra 51 chutes nossos, porém com 15 na direção do gol – uma quantidade de erros muito grande. Isso significou duas coisas. Primeiro, apesar do domínio, a Elase não conseguiu ser efetiva. Segundo, nós atuamos de forma aguda e intensa, tentando aproveitar a fragilidade da defesa adversária, já que a Elase foi a equipe que mais sofreu gols em todo campeonato. Sabíamos disso e procuramos chutar de todas as maneiras, de todos os lados. Dos 15 chutes na direção do gol, a Elase converteu três; dos nossos 15, cinco foram convertidos. E mais, das 12 defesas que o Victor fez durante a partida, três foram difíceis e quatro foram quase que impossíveis. Nessas horas o nosso goleiro e capitão mostrou a sua diferença para os demais arqueiros da competição. Quando mais o time precisou, Victor deu a resposta. Digo isso com uma mistura de orgulhos de pai e de preparador. Mas, de fato, é a pura verdade.
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Foi um jogo suado. Mais uma vez começamos a partida fazendo o primeiro gol, aos 2:18 através do Marcão. Eles reagiram e viraram, com gols de Dodô, aos 3:14 e Vitor Dias aos 3:30. Ou seja, a equipe sentiu o golpe momentaneamente. Deixei a bolar rolar para ver se precisaria pedir tempo. Não, não deveria pedir, já que estávamos forçando as jogadas de pivô sobre a defesa adversária. Faltavam pouco mais de dois minutos e meio para acabar a primeira etapa e tínhamos uma falta a nosso favor. Gritei para o Victor pedir tempo e ele pediu. Armamos uma jogada que estava preparada para o jogo decisivo. Voltamos para a quadra e a execução saiu parcialmente correta, já que o Pelezinho se posicionou errado e não cruzou na frente do goleiro. Mas impedimos a movimentação da barreira com o pivô Marcão e, após o Diogo fingir que chutaria e passar a bola para o lado, o Serginho encheu o pé, empatando o jogo. Logo em seguida, Victor faz uma defesa fundamental, evitando que a Elase passasse à frente, defendendo com o pé esquerdo um chute cruzado cara-a-cara em uma saída de gol. Outro golpe na Elase ainda estaria por vir. Em um grande lançamento, o goleiro Victor encontrou o pivô Marcão acompanhado por apenas um adversário. Ele girou e fuzilou o goleiro com um chute cruzado. Estávamos na frente mais uma vez.
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Começou o segundo tempo com a Elase pressionando ainda mais. Depois de uma bobeira da defesa, eles quase empatam o jogo. Mas o goleiro Victor defendeu outro chute da entra da área, rasteiro e no cantinho esquerdo. Um chute indefensável, mas não naquele momento. Na seqüência, fez mais uma defesa extraordinária, num outro chute cruzado que tinha endereço certo, com um ala adversário posicionado na trave oposta para carimbar a bola no fundo das redes. A Elase pressionava, mas nós também atacávamos. Devido a uma formação de ataque errada e uma má execução de um lateral, a Elase recuperou a bola através de Vitor Dias que lançou o pivô Dodô no meio da quadra. Sem qualquer defensor à frente, ele fuzilou alto, quase da entrada da área e marcou o gol de empate.
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A Elase dominava a maioria das ações, mas o jogo estava lá e cá. Qualquer erro poderia ser fatal. E ele quase aconteceu. Bastava um gol para a Elase ganhar vida na competição e ficar empatada com a gente no número de pontos ganhos. Perderia no saldo, de qualquer forma, mas ainda faltariam outras partidas. Em outro contra-ataque dos elaseanos, o pivô Dodô - que havia acabado de desperdiçar uma chance de ouro, chutando livre de dentro da área uma bola para fora – chutou rasteiro, cara-a-cara e cruzado, de dentro da área, mas o goleiro Victor operou mais um milagre, defendendo com o pé esquerdo. Também perdemos diversos gols. Dois frontais, através do Marcão; um do Yan, que chutou para fora na segunda trave com o goleiro batido; uma com o Serginho, que novamente tropeçou num cruzamento feito na segunda trave, sem goleiro e outra com o Diogo, meio apagado na partida, que fuzilou o poste adversário. O jogo seguia sinistro e muito perigoso. Com o resultado de 3 a 3 ganharíamos o título, mas tudo poderia acontecer.
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Restava pouco mais de dois minutos para a partida encerrar e o técnico adversário, diante da ineficácia do ataque da sua equipe naquele momento, pediu tempo. Alertei meus atletas que eles iriam partir para o tudo ou nada. Modifiquei o nosso sistema, trocando o 1-3 pelo 2-1-1. Dessa forma fiz um triângulo frontal à nossa trave, impedindo que os lançamentos do goleiro Dudu chegassem ao pivô Dodô. Pedi ainda que segurássemos mais o jogo e que o pivô Marcão chamasse para si os marcadores adversários, que partiriam em blitz para roubar a bola, que é o que lhes interessava mais do que nunca. Disse para ele não finalizar, e sim passar para os alas Diogo e Serginho, que certamente estariam sem marcação. Na hora do desespero, a tendência das equipes é acabar com o sistema defensivo e tentar o gol a todo custo. Acreditando nisso, pedi para o Diogo passar por trás da defesa adversária, enquanto o Marcão fosse fazer o pivô. Assim o goleiro Victor poderia lançar as bolas encobrindo a defesa da Elase.
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Nossa estratégia deu certo, cortamos todos os lançamentos feitos em ligação direta goleiro-pivô. Mais do que isso, quando faltava um minuto em trinta e dois segundos para o fim da partida, Marcão e o ala Diogo fizeram grande jogada pelo lado esquerdo. Depois de driblar três jogadores da Elase, Marcão passa para Diogo que invade a área e chuta cruzado, sem defesa. Com o placar de 4 a 3, a Elase precisaria fazer dois gols em pouco mais de um minuto. Mas em futsal tudo é possível e já perdi um campeonato em circunstâncias semelhantes. Após o gol, nosso goleiro Victor passou a lançar bolas nas costas da defesa adversária. Foram três lançamentos precisos para o Diogo, que levaram grande perigo à meta adversária. Um desses lançamentos resultou em um escanteio. E, para a nossa felicidade, após a cobrança feita pelo Pelezinho, o ala Serginho chutou errado em direção ao gol, mas Marcão - em dia iluminado -, mesmo marcado, tocou de letra para o fundo das redes. Faltavam apenas 13 segundos no cronômetro e já estávamos todos comemorando. Com a bola nos pés do Marcão, o árbitro apitou o final da partida.
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Confesso que, durante os dois jogos decisivos, me portei de forma totalmente diferente do meu normal, que é agitado e vibrante. Fui bem mais cerebral, por julgar que seria necessário passar tranqüilidade para a garotada, na ausência do técnico Alex Silva. Mas, quando acabou o jogo contra a Elase, saí correndo para abraçar meu filho. Todos nos abraçamos no centro da quadra. Fui para frente da torcida e comemorei bastante. Liguei para o Alex. Depois liguei para o presidente do Avaí, João Nilson Zunino. Liguei para minha esposa. Dei entrevistas. Fomos almoçar.
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De tarde, para o último jogo, sabia que a equipe não queria mais correr atrás de bola. Dei chance a todos os jogadores para atuar, mesmo sacrificando o resultado, que já não importava mais. Perdemos para o Bugre de São Miguel D’Oeste por 5 a 2 e, no fim do jogo, saímos comemorando o título com champanhe. Erguer a taça diante dos meus principais adversários é algo que não tem preço. Ter vencido a Elase nessa final, por toda a minha história dentro do futsal, tendo saído de lá para montar uma forte equipe em outro clube, foi um sonho, um final digno de um filme e que me motivou a escrever esse livro. Estava ali para vencer e venci, como dirigente e como técnico. Vencemos todos nós, a “Maquininha Azurra”, que fez história.

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